26 de março de 2012

A magia (quase) perdida das histórias

Ilustração: Eduardo Souza


“Stories you read when you're the right age never quite leave you. You may forget who wrote them or what the story was called. Sometimes you'll forget precisely what happened, but if a story touches you it will stay with you, haunting the places in your mind that you rarely ever visit.”
- Neil Gaiman, M is for Magic

Impossível negar: todos temos ligações com histórias. Histórias de quando você era criança, histórias de aventuras com amigos, histórias tristes ou histórias de amor. O que nós parecemos não perceber é que as histórias tem um papel muito maior do que nós nos damos conta.

Desde que aprendeu a se comunicar, o homem inventou histórias para explicar fenômenos naturais, como a morte, seca, chuva, trovões. Essas histórias se referiam a entidades muito, muito maiores que os homens: deuses. Os deuses são a projeção humana que protagonizam as histórias criadas por nós (ou pelo nosso inconsciente) para nos ajudar a dar sentido a nossa existência.

Essa relação é muito interessante, pois, ao mesmo tempo que os homens criam os deuses, os deuses criam os homens. Nós precisamos criar do barro entidades para dar sentido a nossas vidas. E, de repente, esses personagens criam vida própria, como se a mera atividade de os criar soprasse neles a vida que precisam para se tornarem autônomos.

Essas histórias, esses deuses carregavam consigo muita força; força para encantar, inspirar e assustar. Durante muito tempo, eles foram a justificativa e o objetivo dos homens. As histórias eram tudo que os homens tinham.

Durante muito tempo, essas histórias foram contadas e cantadas por trovadores: contos, mitos, lendas. Com a democratização do conhecimento, os livros fizeram desaparecer todos os contadores de histórias, todos os declamadores de poemas. Todos os storytellers.

A Wikipedia nos diz que:
Contar histórias é a transmissão de eventos em palavras, imagens, e sons muitas vezes pela improvisação ou embelezamento. Histórias ou narrativas foram compartilhadas em cada cultura e em toda a terra como um meio de entretenimento, educação, preservação da cultura e para incutir valores morais.

A língua inglesa tem uma palavra específica para isso: storytelling. E há uma razão particular para que todas essas histórias conseguissem sobreviver, seja pelos trovadores medievais, seja por caciques de tribos indígenas americanas ou africanas - passando de geração a geração as histórias que seus pais e os pais de seus pais haviam passado adiante.

Nós somos biologicamente programados para reagir a essas histórias. Jung tornou esse termo famoso, mas um conceito similar já existia desde Platão, com seu mundo das ideias. Novamente, a Wikipedia:
Um arquétipo é um símbolo, termo, padrão de comportamento universalmente reconhecido; um protótipo a partir do qual todos os outros são copiados, emulados. Arquétipos são usados em mitos e storytelling em diversas culturas.





Poderíamos, dizer, então, que história é tudo aquilo que nos faz rir, chorar, nos inspiram ou nos deprimem: em suma, nos comunicam algum sentimento. A magia dessas histórias nunca foi sumamente perdida, apenas tem trocado de mídias ao longo do tempo. Canções, poemas, pinturas, peças, romances, filmes, séries, animações, jogos. Provavelmente você deve conhecer uma obra em todas essas mídias que mexeram com você de alguma maneira.

Eis porque reagimos tanto a elas: esses comportamentos, presentes em nosso inconsciente coletivo, lida com um instinto primal. Jung usava os arquétipos para analisar comportamentos, tratando-os como verdadeiros órgãos psicológicos. A maioria das histórias são relativamente simplificadas, mas há contextos ideais para cada tipo de história em nossas vidas. Como Gaiman disse muito bem na citação que abri o post.

As verdadeiras histórias, aquelas que conseguem nos mover, trazem consigo essa carga de divindade. Eis a magia das histórias.

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Foi bem difícil voltar a escrever. Como todo o resto em nossa vida, a prática é tudo. Não conheço mais aquele Eduardo que escreveu textos um tanto impressionantes sobre cores, músicas e jogos. O que me faz acreditar que aquele Eduardo sou o eu de agora?

Convesaremos sobre isso no próximo post dessa série: Tudo é história


Um comentário:

  1. Hahhaa, fiquei impressionado com esse também cara! Fiquei até ansioso pela próxima da série!

    História, estória, conto, lenda... tudo isso é realmente mágico!

    Beijinho na tua mente cara!

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