5 de dezembro de 2009

O "Cogito, Ergo Sum" Cartesiano

A frase "Cogito, ergo sum", retirada do latim, muito provavelmente é infamiliar para os ouvidos populares, mas a sua tradução para o português - "Penso, logo existo" - é incontestavelmente aprovada em qualquer diálogo de mesa de bar ou debate filosófico fervoroso.

Entretanto, essa premissa desenvolvida pelo filósofo, físico e matemático Renatus Descartes é uma das mais mal interpretadas pelo senso-comum. As más línguas chegam a obter teses do gênero: "para existirmos é indispensável o ato de filosofar" ou "sem pensar, nada somos", o que, na mesma medida são redundantes e errôneas.

Na verdade, René focou a tentativa de eliminar por completo os conhecimentos pré-estabelecidos, para assim deixar explícito o real motivo da nossa existência. Ao partir do marco zero, ele percebeu que estava a duvidar da presença de todas as coisas possíveis. Então, se duvidava, necessariamente também pensava, e se pensava, necessariamente existia. Em síntese, como uma regra de três simplória, Descartes pôde ter a certeza que existia porque pensava, emitindo então a premissa "Cogito, ergo sum" ou "Penso, logo existo.

Perceptível é que o Cogito cartesiano não conta em absoluto com aspectos morais, sendo apenas um objeto de estudo empírico e matemático. A falha, entretanto, de seu pensamento, foi adotar a existência de deus sem a devida contestação e nunca ousar desobedecer a eficiência do governo, o que acabou levando-o, de certa forma, à figura do medo e da hipocrisia. Mas nada que ofusque ou desqualifique a sua importantíssima linha de pensamento.

Concluindo, a interpretação correta não é alcançada pelo senso-comum porque simplesmente poucos possuem a vontade de ler O Discurso do Método de Descartes, já que, como visto acima, nada há de complexo em sua teoria. De fato, a teoria cartesiana tenta ser o oposto da complexidade, pois o objetivo de René era desmistificar os caminhos para um pensamento coerente em sua sociedade ao expor o modo pelo qual ele mesmo chegou às suas conclusões filosóficas - por isso o título da obra, O Discurso do Método.

Por Italo Lins

4 comentários:

  1. Sintético, simples e genial. :B

    Descartes foi um gênio de uma simplicidade de pensamento incrível. Talvez até ingênuo, diria eu, justamente por não contestar as premissas da religião a que pertencia.

    O que eu acho mais foda nele foi o timing que ele teve, de criar esse método e essa linha de pensamento num momento tão oportuno para o desenvolvimento da ciência e do pensamento analítico. Ou era a sociedade que já pedia isso? Provavelmente ambos.

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  2. Inclusive, eu tava até pensando como o "cogito" foi traduzido erradamente e pegou assim.
    Acredito que essa tradução deveria ser algo "Questiono, logo existo". O "existo" também é duvidoso, mas o penso descamba para algo errôneo muito mais facilmente.

    Não é à toa que tanta gente pensa erradamente essa frase. Não que usar o "penso" no sentido de filosofar seja ruim, mas não é exatamente o que Descartes quis dizer. Como tu disse, Italo, significa questionar as informações que já existem.

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  3. No, no, no, a questão ainda não é a de questionar as informações que já existem - por mais que a filosofia em si tenha isso como objetivo.

    Descartes, na verdade, não tava pensando em sabedoria ou alienação - tanto que ele mesmo era alienado pelo Estado e pela religião -, ele só queria comprovar através da lógica que nós existimos.

    Então quando ele saiu do pressuposto de que nada existia, mas que na verdade, ele pensava, então se ele pensava, ele poderia ter a certeza de que o "ato de pensar" existia, então, como somos nós que pensamos, por tabela, também existimos.

    Mas na verdade, esse assunto ainda não é um livro fechado, como a gente já falou nos posts anteriores, por causa da física quântica.

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  4. Hum, saquei.
    Incrivelmente, foi assim que os cientistas e cientificólogos acabaram levando a afirmação de Descartes, inclusive Newton, acredito.

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