27 de abril de 2012

Tudo são enredos

Antes de mais nada, vejamos esse vídeo, de 35min até 37min.



Perfeito. Eu poderia parar esse post aqui. Tudo o que eu poderia falar já foi dito aí. Mas divaguemos.

O que forma nossa identidade são histórias, enredos. Ora, será que você entendeu as consequências disso? Você é uma história! Você é tão real quanto Gandalf, Harry Potter ou Sherlock Holmes! Duvido até que possamos dizer que somos os autores de nossos próprios personagens, mas não vamos entrar por aí, pelo menos não por enquanto.

Hume vai dizer que tudo que nós somos é ficção. Isso porque, para ele, o eu é um feixe de percepções. Percepções divididas entre impressões − dados imediatos da sensibilidade − e ideias − percepções de menor intensidade, como memórias, pensamentos e imaginação. Dessa maneira, ele divide essas percepções pela intensidade que as sentimos. (Mais aqui)

Uma consequência muito boa disso é o que se torna a linha entre realidade e sonho. Se você tem uma percepção muito vívida de um sonho, ela pode vir a ser mais determinante para sua vida do que um fato que realmente aconteceu.

Hello, Lord Shaper.

Enfim, tudo que temos são memórias (essas criadas a partir das percepções). Memórias são interpretações de fatos. A partir do momento que interpretamos, criamos nossas ficções pessoais, que tomamos como realidade. De sorte que nossas interpretações são, em alguns casos, bem parecidas. Assim, podemos viver em sociedade.

Nós somos enredos. Isso é bem complicado.






Hoje, mais do que produtos, cada uma dessas marcas representam uma visão de mundo. Um enredo. O enredo como forma é usado pelo design e pela publicidade quase como sua base prática. Pergunte a qualquer publicitário: o objetivo dele nunca é vender um produto, é criar um enredo ao redor dele. Porque propagandas de cerveja sempre ocorrem em festas, churrascos? É o enredo que a marca da cerveja quer representar e promover. A cerveja não quer ser vista como um produto, mas como um promotor de eventos sociais. E, sim, isso é muito mais lucrativo.

Artistas contemporâneos se utilizam exatamente desse princípio para criar grande parte de suas instalações. Um exemplo muito, muito pertinente é Tiravanija. Você pode ler uma análise mais precisa, porém, resumamo-lo:



Basicamente, essa instalação dele é uma sala, com uma mesa, pratos, etc, onde os visitantes da galeria vão comer crepes preparados pelo artista. Veja, a arte dele não está na instalação, não está no crepe, nem em preparar o crepe. Está no enredo que vai ser formado por esses visitantes, essa interação, esse ambiente.

As histórias, tecer esses enredos são - como a criação de deuses, lá atrás - necessários para a compreensão do mundo. Nós podemos entender a realidade através da ficção. A historiografia é (talvez a maior) ficção, ainda assim, cá estamos, observe quão complexa é nossa sociedade. A nossa economia é uma fantástica ficção metafísica: só uma pequeníssima parcela do dinheiro que roda pelo mundo existe fisicamente; o crédito é metafísico.

Respondendo a pergunta do último post: a história que criei para mim. Isso que me conecta àquele outro Eduardo. Acredito que nós somos, ao mesmo tempo, autores e leitores das nossas vidas e isso reflete diretamente como nós a vivemos. Uma das réplicas que eu tenho a esse vídeo de Tyler Cowen é que ele tenta diminuir o poder das histórias, mas isso é impossível. O que deve ser feito é conhecer sua história, conhecer seu estilo de redação, para que você possa assumir a pena e, então, tentar escrever um pouco mais conscientemente o seu próprio enredo.

Claro que tudo isso é só história.

No próximo, vamos debater um pouco sobre uma crítica à ficcionalização da existência.

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