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31 de janeiro de 2010

A Distopia dos Tempos Modernos

A idealização de um estilo de vida humano tornou-se objeto de estudo há inúmeros anos. "A República" de Platão, um grande exemplo, tentou definir o melhor caminho para uma sociedade no mínimo equilibrada, fazendo com que inclusive hodiernamente a obra seja alvo impetuoso de grandes pensadores. Mas nunca com fins práticos. Idéias como as platônicas, que parecem plausíveis apenas no âmbito metafísico, são classificadas como utópicas. Utopia, que do grego significa "não-lugar", traduz a idéia de algo teoricamente impossível de se tornar realidade.

Por um meio ideológico distinto navegam escritores como George Orwell (em "1984") e Aldous Huxley (em "Admirável Mundo Novo"), os quais profetizam um futuro irremediável no qual apenas a angústia e a dor serão as heranças da tola humanidade. Esses pensamentos são colocados na estante da distopia, que apesar de apocalíptica, pode nos fazer escapar da nossa caverna platônica obscura e alienada.

A obra "1984" de George Orwell foi um marco para a distopia, pois retrata de uma maneira concreta a visão de uma sociedade dominada por líderes ambiciosos que buscam apenas o poder. Na história, a Oceânia é um território liderado pelo Grande Irmão, uma figura imortal que representa não apenas o partido político vigente, mas toda uma cadeia de idéias ditatoriais. A população da Oceânia é dividida entre "proletas" e "membros do partido", os quais são impedidos de produzirem pensamentos críticos. Para manter a população inerte, o partido faz uso das teletelas - aparelhos que vigiam os cidadãos vinte quatro horas por dia -, da Polícia das Idéias - responsável pela busca e apreensão dos pensadores - e da técnica de "duplipensamento". O "duplipensamento" é a capacidade das pessoas em acreditar nos pensamentos dicotômicos (ou seja, que se o partido disser que 4+4 = 5, e depois vier a dizer que a mesma soma é igual a 3, então assim será). Em um futuro próximo, a idéia da elite é que a utilização de um novo idioma seja utilizado, a Novilíngua. Com esse novo idioma, palavras como "liberdade" seriam tiradas do dicionário, para que a população não soubesse o significado real da mesma. Algo parecido com as idéias do filósofo da linguagem Ludwig Wittgenstein, o qual falava que "A nossa inteligência vai até onde for a nossa linguagem".

Em "1984", através da mídia, o partido tem a capacidade de transformar o passado em elemento mutável, ou seja, consegue transmitir a idéia de que certas pessoas - em sua maioria, rebeldes - nunca existiram ou então que certo território nunca esteve em guerra com a Oceânia. É a prova de que a "memória-longa" é um aspecto positivo, e que no caso do Brasil, não é utilizada. Para incitar o ódio perante os grupos rebeldes, a classe dominante utiliza diariamente um evento chamado "Dois Minutos de Ódio", que na verdade é um momento no qual os trabalhadores se reúnem para vaiar e cuspir na imagem dos grandes pensadores. O Socing - Socialismo Inglês - é falsamente utilizado, já que a democracia e igualdade não existem nesse sistema; e a hipocrisia dos ministérios é notável, já que o "Ministério do Amor" simbolizava a tortura, o "Ministério da Pujança" a escassez de alimentos, e os da "Paz" e "Verdade" pela guerra e mentiras, respectivamente. Orwell usa a idéia de que "apenas os proletas podem derrubar o partido", partindo da premissa de que a dominação só irá cessar com a consciência de que vivemos em prol de uma estúpida e ínfima elite.


"Ignorância é força", "Liberdade é escravidão" e "Guerra é paz".

"1984" é uma obra tão concreta que a passagem "(...) Era provável que as bombas-foguetes que caíam diariamente sobre a cidade fossem disparadas pelo próprio governo da Oceânia, 'só para manter a população amedrontada'" retrata de uma maneira espetacular os "Atentados" de 11 de Setembro, no qual muito provavelmente o próprio governo dos Estados Unidos forjou as explosões para ter uma razão de pôr suas patas sedentas por petróleo no Oriente Médio.

O filme "Tempos Modernos" do grandioso cineasta e ator Charles Chaplin também faz uma reverência à estupidez coletiva, mas relacionado à mecanização do homem. Na verdade, à "mecanização do homem" e à "humanização da máquina", já que Chaplin, no filme um trabalhador industrial, demonstra quão exaustivo era o trabalho mecânico e quão ingrata é a vida na sociedade, já que buscamos o famoso "Sonho Americano", no qual as pessoas deveriam ter "uma mulher bonita, um bom café da manhã, um bom emprego, uma barba exemplar e um dia de sossego". De uma forma graciosa, Chaplin, sempre otimista, demonstra que apesar da vida ser difícil, nunca deve-se perder as esperanças de que dias melhores virão, desde que busquemos nossos objetivos com vontade e um sorriso estampado.

O tolo "Sonho Americano" é retratado, inclusive, na figura ao lado, a qual representa a dualidade entre morte e beleza. E é esse mesmo sonho que impede uma possibilidade de reconhecimento do nossa própria honra, já que a busca desenfreada por bens materiais influenciada pelo capitalismo, só pode nos levar a uma história de pura distopia. O mundo estético tem uma causa vazia em mentes promissoras, que apenas deixam-se alienar pela vida ideal propagada pela sociedade.

"Escolha viver. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma televisão enorme. Escolha lavadoras de roupa, carros, CD players e abridores de latas elétricos. Escolha boa saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha uma hipoteca a juros fixos. Escolha sua primeira casa. Escolha seus amigos. Escolha roupas esporte e malas combinando. Escolha um terno numa variedade de tecidos. Escolha fazer consertos em casa e pensar na vida domingo de manhã. Escolha sentar-se no sofá e ficar vendo game shows chatos na TV enfiando porcaria na sua boca. Escolha apodrecer no final, beber num lar que envergonha os filhos egoístas que pôs no mundo para substituí-lo. Escolha o seu futuro. Escolha viver." (Trainspotting)

"Os anúncios nos fazem comprar carros e roupas, trabalhar em empregos que odiamos para comprar as porcarias que não precisamos. Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Nem uma Grande Depressão. Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual. Nossa Grande Depressão é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados." (Clube da Luta) 

Portanto, parece-me a cada momento que o caminho que a filosofia - munida também de outras áreas de estudo como a história, a psicologia e a sociologia - nos proporciona é o mais coerente para o entendimento dos hábitos e pensamentos humanos. Entretanto, a teoria é apenas uma questão de estética quando não aplicada à realidade, já que a frase "devemos amar" é branca perante o "ato de amar". Por mais que tudo seja relativo e baseie-se em uma questão de perspectiva.

Se o futuro será distópico ou utópico? O objetivo de me importar em escrever neste blog é um pequeno grito de socorro rumo à utopia, a qual depende de nós. Tudo dependerá da intelectualização não apenas das classes financeiramente menos favorecidas, mas de todos os cidadãos. Embora, caso isso se concretize, no futuro, a inteligência - principalmente sem a honra - será um grande problema, sem dúvidas. E assim migra a cultura humana.

Por Italo Lins

3 de novembro de 2009

George Orwell - A Revolução dos Bichos


Após várias tentativas de publicação, o ex-combatente na Revolução Espanhola e escritor indiano Eric Arthur Blair (conhecido pelo pseudônimo de "George Orwell") lançou, em 17 de agosto de 1945, um dos romances mais aclamados pelos leitores ocidentais e orientais do século 20: A Revolução dos Bichos. Revolução essa que retrata, de maneira metaforicamente animalizada e satírica, a Rússia de 1917 durante a queda do regime absolutista do Czar Nicholas II (o fazendeiro Sr. Jones) e a ascensão dos ideais socialistas promovidos pelo Partido Bolchevique com as figuras de Lênin (não é citado na obra), Trotsky (o porco Bola-de-Neve) e Stalin (o porco Napoleão). Logo após o sucesso da expulsão do Czar, os russos (os animais) gozaram de uma qualidade de vida excepcional na qual a liberdade era pura e tudo era de todos, até caírem no governo ditatorial stalinista (napoleônico), quebrando os sonhos de uma sociedade ideal.

Submissos às regras do Sr. Jones, os animais da Granja do Solar iniciam uma revolução seguindo as idéias do porco Major, o qual proclamava ao som da canção "Animais da Inglaterra" (Beasts of England) uma vida na qual todos eram iguais e viviam em prol deles mesmos. A expulsão de Jones foi um sucesso. Os dias sem os humanos na granja eram quase utópicos: a liberdade existia, o trabalho era marcado apenas pela necessidade de subsistência e não havia espaço para o ciúme ou a inveja. Os porcos, considerados os mais inteligentes, guiavam através dos costumes (common laws) a sociedade, mudando o nome do estabelecimento para Granja dos Animais e impondo as seguintes regras:

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.

As ovelhas, cujas capacidades mentais não eram avançadas, baliam: "Quatro pernas bom, duas pernas ruim".

Mas, havia um grave problema: Bola-de-Neve e Napoleão sempre divergiam de opinião. E na questão de manter o Animalismo (Socialismo) vigente, aquele queria proliferar as idéias igualitárias mundo afora, e este tinha em mente o investimento em armamentos para defenderem-se de possíveis invasões. E de fato, invasões ocorreram (guerras civis). Após a vitória em todas elas, Napoleão decretou Bola-de-Neve traidor e expulsou-o da granja, mantendo então, o poder absoluto sobre ela.

Sem Bola-de-Neve por perto, a vida mudou. Os que sentiam sua falta eram igualmente considerados traidores e então, executados; os porcos líderes começaram a adotar hábitos humanos, obtendo-se assim, um privilégio descarado. As novas regras eram as seguintes:

4. Nenhum animal dormirá em cama (com lençóis).
5. Nenhum animal beberá álcool (em excesso).
6. Nenhum animal matará outro animal (sem motivo).
7. Todos os animais são iguais (mas alguns são mais que outros).

Mas os animais viam que o governo de Sr. Jones era ainda pior.

A hipocrisia estabeleceu-se: Napoleão começou a propôr uma boa imagem dos humanos, a vender alimentos que até então eram estritamente dos animais e a impôr trabalho excessivo para a construção de um moinho (que foi destruído duas vezes em guerras). O corvo Moisés (igreja ortodoxa) entrou em ação para acalmar os ânimos da população que começava a se rebelar, propondo uma vida no céu, onde as nuvens eram de algodão e todos eram felizes.

As ovelhas, alienadas, agora baliam: "Quatro pernas bom, duas pernas melhor!" ao ver que os porcos agora andavam sob duas patas.

Napoleão então, marcou uma reunião (Reunião de Terãa, Irã) com outros dois humanos (o então presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt e o primeiro ministro britânico, Winston Churchill) onde todos bebiam e apertavam as mãos, mostrando então, que já não havia diferença entre porcos e humanos, embora eles tornassem a conflitar ao fim do encontro.

A Revolução dos Bichos é a maneira mais fácil e interessante de aprender o que ocorreu durante a Revolução Russa, sendo recomendadíssimo inclusive para os alunos do Ensino Médio, pois Orwell conseguiu relatar o fato histórico de uma maneira universal.

A relevância social deste livro foi enorme. Nos Estados Unidos, durante a Primeira Guerra Mundial, este trabalho foi proibido pelo fato de tratar os comandantes russos como porcos (a Rússia era aliada na guerra), mas, anos depois, durante a Guerra Fria, a obra foi disseminada, já que os russos eram inimigos na dita Corrida Armamentista.

Na Ucrânia (ainda parte da URSS), serviu de inspiração aos socialistas que buscavam a manuntenção do sistema. E, ainda hoje, A Revolução dos Bichos é proibida nos países muçulmanos, por ser uma afronta às autoridades.

É possível retirar a idéia então, de que se o homem permanecer o mesmo, não há sistema político ou social que seja capaz de nos trazer a paz, apesar do autor ser socialista assumido.

Por Italo Lins