Mostrando postagens com marcador Mundo Externo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mundo Externo. Mostrar todas as postagens

21 de janeiro de 2010

Uma Percepção Além do Mundo Externo



Parte 2

"Não há fatos, apenas interpretações" Friedrich W. Nietzsche

Em poucas, mas sábias palavras Friedrich Nietzsche conseguiu sintetizar parte dos pensamentos que irão ser abordados neste texto. As idéias as quais tratarei de exprimir serão relacionadas à uma possível inexistência de um mundo exterior como essência. Sim, como se tudo que nós percebemos no mundo exterior fosse apenas uma tradução produzida pelo cérebro através de impulsos nervosos captados pelos sensores.

Immanuel Kant, antecedendo Nietzsche, afirmou que a realidade somente é alcançada pelos humanos através dos cinco sentidos: audição, olfato, paladar, tato e visão. Para além dos sentidos, nada pode ser julgado existente, mas que também seria um equívoco classificar o desconhecido como inexistente, já que não é pela razão de não percebermos a presença de algum objeto que podemos nos dar ao luxo de dizer que o mesmo não existe.



A visão funciona de uma maneira bem simples e está relacionada diretamente ao auxílio da luz. Um objeto qualquer fotografado pelo olho incide sobre a retina, que armazena a luz e a transforma em impulso nervoso, que é recebido pelo nervo óptico, o qual envia a mensagem para o lobo occipital - na figura abaixo, a área pintada de roxo - do nosso cérebro, que traduz a imagem e faz com que percebamos que ela existe de forma suposta. Parece um longo caminho, mas todo esse processo ocorre em uma fração de segundo.

Os olhos e todos os seus componentes na verdade são apenas convertores, assim como algum programa que converte formatos de vídeos (por exemplo, de mpeg para avi). O real intérprete da imagem é o cérebro. E, o mais curioso, é que para a massa encefálica, não há diferença entre enxergar algo ou se lembrar de alguma imagem, já que as mesmas regiões, segundo pesquisas detalhadas, ficam igualmente excitadas em ambos os casos.

Para chegar à minha conclusão, acho necessário citar outro exemplo sensorial: a audição. O processo, como você vai perceber claramente, não é muito distinto se comparado à visão. A grande diferença é que ao invés da importância da luz, as vibrações sonoras e o ar são os agentes.



O ar é importante porque é através dele que as vibrações sonoras trafegam - isso explica o porquê de não se poder captar efeitos sonoros no vácuo. As ondas sonoras penetram no pavilhão auditivo, fazendo o tímpano vibrar, que em efeito em cadeia, faz com que os três pequenos ossos - martelo, estribo e bigorna - também vibrem. Os movimentos são captados pela cóclea (também chamada, por motivos aparentes, de "caracol"), a qual, de forma análoga à retina e ao nervo óptico, transforma as ondas em impulsos nervosos e transmite-os ao cérebro.

Muitos então pensam que principalmente os olhos e os ouvidos são autônomos em relação à interpretação do que percebemos. Mas trata-se de um grande engano, já que junto às papilas gustativas, terminações nervosas da pele e os receptores olfativos, a cóclea e o nervo óptico são apenas transmissores de impulsos nervosos. Através da captação de algo material - já que inclusive os fótons são considerados matéria - e da modificação em impulsos, o cérebro nos guia para a realidade, que embora convincente, pode ser falsa.

Falsa porque tudo depende de uma questão de referencial, como Newton fazia menção. O cérebro enquanto máquina tradutora consegue modificar a realidade, assim como citei que não há diferença nervosa entre uma recordação, sonho ou um fato presente. A diferença é que nos dois casos alternativos, há sistemas que bloqueiam a atividade dos músculos para que nós não tentemos correr por simplesmente pensar nas figuras de leões ou onças. No sonho, entretanto, o mesmo ocorre, mas com exceções. Essa exceção se chama "Paralisia do Sono"; que acontece quando um indivíduo acorda, mas seu cérebro permanece em estado de relaxamento, fazendo com que as imagens abstratas do sonho apareçam no "mundo real" enquanto seus músculos ficam estáticos.



A física quântica também entra no debate. Os físicos relatam que todo o universo está em movimento desordenado, e que tudo está baseado em probabilidades, ou seja: o que nós percebemos é o mais provável de estar estável. Então, tudo que nós estamos vivendo pode ser irreal, o que deixará em questão de relatividade a própria percepção do tempo. Por exemplo, a nossa vida pode ser um sonho de uma outra vida.

Seguindo essa interpretação, nós não podemos perceber o que controla o cérebro, já que ao enxergarmos a nossa própria massa encefálica - se isso fosse possível - chegamos à conclusão de que ela, inclusive, não passa de uma ilusão. A única solução hoje é nomear essa força metafísica que controla o cérebro de alma - que difere bastante de espírito, que está diretamente relacionado à figura humana. Embora eu não tenha opinião formada sobre a existência de espíritos - já que é um assunto bastante delicado - eu tendo a acreditar na alma, por mais que possa me referir a ela como "força maior".

O que controla a alma? Para esse caso, a resposta é difícil porque não temos noção da essência da alma. Entretanto, eu acredito que seja a mesma proporção do universo, já que sabemos que ele existe, mas não conseguimos definir o que há um centímetro após o fim do mesmo.

Nós não temos certeza se a vida é real ou não, e mesmo se não for, temos que tratá-la da melhor maneira possível, pois os sentimentos e a moral não são ilusórios e estamos a tratar no dia-a-dia com animais que merecem respeito - por mais que alguns implorem por não merecer. A ciência está avançando e nós estamos caminhando juntos à ela perante essas respostas. Espero estar em vida - falsa ou não - para saber e contribuir com esses resultados.

Por Italo Lins