30 de novembro de 2009

Tempo, Arte e Braid

O que é o tempo? Há várias repostas corretas e excludentes. Tempo físico e tempo psicológico, por exemplo. Ambos são “tempos”, mas a concepção deles, na sua essência, é completamente dissonante. Quem nunca passou por aquele único segundo que pareceu se prolongar por minutos?

Todos sentimos o tempo diferentemente, em situações diferentes. Entretanto, o tempo passa para todos, da mesma maneira. Acredito que a passagem do tempo é uma das maiores provas que o pensamento pode alterar a realidade, ou seja, que a realidade não é uma só. Há uma realidade singular para cada um que faz parte dela. A realidade é absoluta e relativa, simultaneamente, como eu falei que são os Perpétuos, em Sandman. Sim, os perpétuos podem servir de símbolos para a realidade.

O que nos lembra, como eu falei no post sobre arte, que cada pessoa percebe a arte de forma singular, única. O que nos leva à conclusão de que arte é uma realidade. Criar arte é criar realidades. O artista é um mago, que, segundo seus sentimentos, altera e cria realidades fantásticas, como Gaiman em Sandman.

A partir disso, quero conceituar aqui um jogo – sim, um videogame – como arte. O que faz de uma obra, uma obra de arte? Sentimento, vínculo afetivo, estética? Um jogo possui tudo isso e mais algo. Se cinema é uma arte – que, por sinal, envolve as demais – como um jogo não o é, também? Ademais, um jogo tem um elemento que lhe é inerente e muitíssimo peculiar: a interatividade, que torna muito mais propícia a imersão do usuário. Sim, as demais artes tem, cada uma a seu modo, interatividade – acredite ou não –, mas, nos jogos, isso se torna muito mais evidente.

Quando no início dos videogames, era fácil notar como cada jogo era feito quase que artesanalmente, e, quem joga há algum tempo, sabe da sensação de saudosismo que traz um jogo clássico. Com o crescimento absurdo do mercado de games ao redor do mundo, os games tornaram-se, logicamente, muito mais comerciais, uma mídia a mais para divulgação de uma franquia, muitas vezes. Entretanto, com o crescimento desse mercado, veio sua maturidade, e, hoje, eu vejo uma esperança de algo que há algum tempo já imaginava: o reconhecimento de games como arte.


O mais claro exemplo disso veio com jogos recentes, como Braid e Machinarium, por exemplo, que elevam – ou relembram – os jogos a outros ares. Da primeira vez que vi Braid, fiquei abismado com aquele cenário que mais parece uma pintura impressionista, com cores aparentemente escolhidas a dedo para criar uma harmonia única, que eu vi em telas de poucos pintores. Ouvi aquela música acalmante, imersiva, solene, triste. Vi aquele homenzinho correndo, de maneira tão bem feita, que, minha reação foi dizer, espantando “que jogo é esse?!”.
As referências visuais ao clássico – e por vezes reconhecido em demasia – Mario são óbvias: o monstrinho que parece um goomba, uma planta carnívora que sai de um cano verde, um dinossaurozinho. Todavia, as semelhanças param aí.
Você inicia Braid em um cenário de uma cidade escura, deserta, e adentra em uma casa, sem entender muita coisa. Dividida em alguns cômodos, essa casa tem algumas portas, e cada uma delas leva a um quarto completamente composto de nuvens – belíssimas, encantadoras nuvens – e alguns livros, nos quais você vai lendo a misteriosa história de romance do herói com a chamada Princesa. Curiosamente, você começa pelo Mundo 2, quando, aparentemente, Tim - personagem principal - perde a Princesa.

A mecânica do jogo é completamente baseada em quebra-cabeças, puzzles em que você, muitas vezes, precisa parar e pensar durante minutos a fio como resolver. Todavia, você tem consigo uma das melhores armas possíveis para tal: o tempo. O tempo, que, apesar de ajudá-lo em diversas situações, por vezes, atrapalha bastante. O seu objetivo é pegar as peças de quebra-cabeças de cada mundo, para ir montando a história de Tim.





O que mais me faz pensar enquanto eu jogo esse jogo, é como a concepção de uso do tempo – apesar, de em termos newtonianos, não pudermos voltar no tempo – se encaixa conceitualmente com a vida. Por exemplo, em um dos mundos, você precisa se utilizar de uma “sombra” de Tim que aparece quando você volta no tempo. Se nos desvencilharmos da idéia de voltar no tempo literalmente, podemos imaginar como é comum essas sombras do tempo que passou interferir na nossa vida atualmente.

E como não considerar algo assim arte? Quando você conhecer a realidade em Braid – e puder abolir o preconceito de videogames –, tenho certeza de que mudará sua concepção de arte e de jogos. Braid é uma obra de arte desde a sua estética ao game design em si. Espero, então, que a partir daí, possam surgir vanguardas, movimentos artísticos de jogos.

Para fazer o download de Braid via torrent, clique AQUI.

Por Eduardo Souza

7 comentários:

  1. Concordo plenamente em tudo que você falou em relação a arte e jogos virtuais, cara.

    Mas já em relação ao jogo, já comecei a baixar e prometo voltar aqui quando tiver alguma opinião formada sobre o mesmo.

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  2. jogos como braid, ico, shadow of the colossus, sands of time, super mario 64, super mario galaxy, entre alguns outros que não lembro agora, são definitivamente arte. assim como o teatro foi para a idade antiga, o cinema para o século vinte, o vídeojogo será a grande expressão artística do século vinte e um.

    btw um post que fala tanto do tempo foi publicado às zero horas e zero minutos(!) haha não acredito em coincidências.

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  3. Opa, gostei muito dos comentarios e concordo totalmente, baixei Brad aqui, realmente uma arte.
    So q aqui n sei como ele ficou lento... =/

    Abraço, gostei muito do blog

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  4. Como prometido, cá estou novamente pra comentar :]

    Cara, esse jogo é sensacional! Dá pra comparar sim com o Mario World (como na figura) pelos personagens e jogabilidade (até certo ponto), mas a storyline sem dúvidas é muito mais intensa.

    Não vou comentar sobre a história em si porque spoiler é sacanagem, mas com certeza, pela temática, jogabilidade e inteligencia do jogo, posso dizer que é altamente recomendável!

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  5. O final do Braid é algo realmente espatoso e põe em pauta a relatividade do tempo!

    Ótimo Blog!

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  6. Cara, que trilha fantástica. Sem falar a arte, maravilhosa também.

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  7. Henrique,

    Eu já vi o final, depois de ter acompanhado a história, apesar de não ter zerado ainda eu mesmo, mas sim, é muito bom. Outro ponto importantíssimo de Braid é, também o roteiro! E como tudo se encaixa bem com o conceito do jogo!

    Azrael,

    Sim, a trilha é genialíssima, também! Tudo muito bem fechado naquele jogo.

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