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Antes de mais nada, leiam aqui essa versão do poema de Narciso, que, por sinal, é muito boa.
Então, todos devem conhecer o mito de Narciso, e, depois de ler esse poema, devem tê-lo compreendido melhor. O que pretendo aqui é interpretar esse mito, não do ponto de vista da psicanálise freudiana ou quaisquer outras correntes. Ainda assim, dei uma lida despretensiosa e superficial - sim, na Wikipedia - sobre isso, e das intepretações do narcisismo, concordo em diversos pontos com a freudiana mesmo.
Gostaria de interpretar o mito através dos símbolos, dos elementos, e de como ele influencia nossa vida no dia-a-dia de fato.
Quando Narciso está à beira do lago, simboliza que ele está
em um momento de introspecção, contemplando, pensando, como bem mostra o poema. O lago é si mesmo. E vê sua reflexão. Claro, como Freud define o narcisismo primário, todos procuramos no exterior aquilo que está em nosso interior, segundo a nossa personalidade, formada na infância, como está consolidada em nosso ego. Narciso, então, está olhando para dentro de si e vê a si próprio.
Entretanto, ao falar consigo mesmo, em seu interior, ele recebe uma resposta externa: Eco. Outra pessoa. Entretanto, ao olhar para si e receber respostas exteriores, ele passa a procurar por si externamente. Eco, por sua vez, também possui traços inerentes à psique humana. Eco representa, ao meu ver, como nós nos relacionamos com os outros, com aqueles com quem simpatizamos - ao procurarmos nós mesmos, como aconteceu com Narciso!
Nesse ponto, é como se Narciso e Eco se unissem - em nossa mente -, pois todos nós temos um tanto de Eco e um tanto de Narciso. Esse é o amor entre Eco e Narciso, que não chegam sequer a se ver. Ele acreditou que em si, poderia encontrar os outros - por ter entrando no lago - e nos outros, encontrar a si - por ter falado com a reflexão de si como se fosse outro. Então, Narciso se afoga em si.
Aí, Narciso dá origem a uma flor. É quase uma chance de redenção. Agora, Narciso deixou de ser ele mesmo, deixou de subjugar aquelas pessoas que se apaixonavam por sua beleza, e passa unicamente a servir. A beleza que ele se torna - a flor - não mais é para fins próprios, mas inteiramente para os outros. Narciso renasceu como pura humildade.
Isso me lembrou um conto Zen, mas que fica pra uma outra postagem.
Então, narcisismo não é somente aquela pessoa que valoriza em demasia tudo aquilo que se relaciona consigo própria - beleza, esforços, trabalhos - mas também aquela pessoa que só se relaciona com as demais por elas satisfazerem à sua vontade própria. É quase um tipo de egocentrismo que faz com que essas pessoas narcisistas achem que as demais são reflexos de si próprias, ou não importam.
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Enfim, posso ter passado dos limites da abstração do mito, mas, caso vocês concordem ou discordem disso, manifestem-se nos comentários!
Por Eduardo Souza
Então, todos devem conhecer o mito de Narciso, e, depois de ler esse poema, devem tê-lo compreendido melhor. O que pretendo aqui é interpretar esse mito, não do ponto de vista da psicanálise freudiana ou quaisquer outras correntes. Ainda assim, dei uma lida despretensiosa e superficial - sim, na Wikipedia - sobre isso, e das intepretações do narcisismo, concordo em diversos pontos com a freudiana mesmo.
Gostaria de interpretar o mito através dos símbolos, dos elementos, e de como ele influencia nossa vida no dia-a-dia de fato.
Quando Narciso está à beira do lago, simboliza que ele está
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Entretanto, ao falar consigo mesmo, em seu interior, ele recebe uma resposta externa: Eco. Outra pessoa. Entretanto, ao olhar para si e receber respostas exteriores, ele passa a procurar por si externamente. Eco, por sua vez, também possui traços inerentes à psique humana. Eco representa, ao meu ver, como nós nos relacionamos com os outros, com aqueles com quem simpatizamos - ao procurarmos nós mesmos, como aconteceu com Narciso!
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Aí, Narciso dá origem a uma flor. É quase uma chance de redenção. Agora, Narciso deixou de ser ele mesmo, deixou de subjugar aquelas pessoas que se apaixonavam por sua beleza, e passa unicamente a servir. A beleza que ele se torna - a flor - não mais é para fins próprios, mas inteiramente para os outros. Narciso renasceu como pura humildade.
Isso me lembrou um conto Zen, mas que fica pra uma outra postagem.
Então, narcisismo não é somente aquela pessoa que valoriza em demasia tudo aquilo que se relaciona consigo própria - beleza, esforços, trabalhos - mas também aquela pessoa que só se relaciona com as demais por elas satisfazerem à sua vontade própria. É quase um tipo de egocentrismo que faz com que essas pessoas narcisistas achem que as demais são reflexos de si próprias, ou não importam.
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Enfim, posso ter passado dos limites da abstração do mito, mas, caso vocês concordem ou discordem disso, manifestem-se nos comentários!
Por Eduardo Souza
Muito bom o texto, cara!
ResponderExcluirE continuo achando incrível a sensação de realidade que os mitos conseguem transpassar para uma sociedade. Fico abismado às vezes ao ver que certos professores martelam nos mitos gregos (ex: Prometeu) para generalizar o mito em si. Não que os mitos da Grécia sejam ruins, muito pelo contrário. Mas os tempos mudam, e até os zumbis podem ser citados como mito (já que é uma representação da anarquia e da alienação).
Mas enfim, relacionando o mito enquanto realidade e o poema de Narciso, eu acredito que sim, com uma linha movida pelas idéias de Schopenhauer, que nossa auto-referência e busca por coisas relativamente fúteis - nesse caso, a beleza exterior - sejam presentes, e senão, intrínsecas à nossa existência. E como o final de certa forma mostra, "esse caminho (fútil) nos levará à própria auto-destruição", e só a transcendência poderá mudar o rumo dessa história"
Só pra complemento de história, não sei se já lesse a versão de Oscar Wilde desse poema, mas ao final, o próprio lago fica triste pela morte de Narciso, mas pelo fato de não conseguir mais olhar a sua própria imagem refletida nos olhos de Narciso. Tenso, ein?
Eu me impressiono, também, porque os mitos e as narrativas fantásticas me parecem cada dia mais e mais atuais. A coisa dos arquétipos é foda mesmo.
ResponderExcluirNão, concerteza! Eu nem falei do ponto de vista das "futilidades" como a beleza que Narciso busca. Essa também é uma das interpretações possíveis e plausíveis. Eu tentei uma abordagem mais subjetiva da coisa. E tentei até evitar esse ponto, pra mostrar que Narciso simbolizava muito mais que isso, e não apenas isso, como normalmente é pensado.
Nunca li essa versão, mas isso foi MUITO tenso, vei. Tipo... caralho, tem uma carga de pessimismo muito forte nessa versão de Wilde, então, vei.