23 de janeiro de 2010

As Correntes Filosóficas sobre o Livre-Arbítrio

Neste post irei tentar argumentar, caminhando por vários ângulos, sobre a possibilidade do livre-arbítrio existir ou não.

Bem, para começar devo explicar o que entendo por "livre-arbítrio". Acredito que a maioria das pessoas tomaria como certo o conceito relacioanado à liberdade de escolha/decisão nas ações de cada pessoa.


Existem várias maneiras de se definir livre-arbítrio, e a visão Teológica é uma delas. Segundo essa, Deus deu ao homem o livre-arbítrio, abdicando de sua onipotência em relação às escolhas dos mortais, apesar de entrar em conflito com a onisciência divina - a que Deus sabe exatamente o que acontecerá, e que escolhas cada um no mundo tomará, como o conhecido paradoxo da onipotência. Entre outras maneiras, se encontra a filosófica, acredito que seja a que mais define essa idéia. Dentre as visões filosóficas estão os Deterministas, os Libertarianistas e os Compatibilistas.

O Determinismo diz que tudo acontece exatamente do jeito que tinha que acontecer, e não poderia ter acontecido de forma distinta. As decisões e os acontecimentos são determinados por eventos anteriores. O que acontece, não poderia ser diferente, porque está conectado com o que aconteceu anteriormente. O mundo físico e biológico são regidos pelo determinismo. A física newtoniana é o melhor exemplo disso: as coisas não acontecem por acaso, existem acontecimentos prévios que preparam outro; isso acontece também na mente, pois os pensamentos são o que são devido a acontecimentos e pensamentos anteriores, assim como os atos decorrentes desses pensamentos, só acontecem devido a experiências vividas. Se você come algo e não gosta, no futuro, quando lhe oferecerem, irá rejeitar, por conta da experiência passada de degustá-la e se arrepender. Ou caso escolha experimentar mais uma vez, devido à outra experiência, que lhe mostrou que as coisas podem ter gostos diversos em diferentes ocasiões ou tempos. Enfim, no Determinismo, tudo em você é o que é devido a eventos passados, até mesmo sua personalidade, seu caráter, seus pensamentos, suas ações, etc. negando dessa forma a existência do livre-arbítrio. Suas escolhas são tomadas com base em experiências passadas.

Um argumento muito usado pelos deterministas é a "ilusão de escolhas", que dizem acontecer devido à consciência humana. Neste caso, a escolha seria na realidade uma percepção de que a execução de uma ação no presente. É um fenômeno da consciência, em que o ambiente desperta a atenção do indivíduo para uma mudança significativa no seu meio, que faz com que ocorra a "ilusão" de escolha. Portanto, você não pode optar por um sorvete de chocolate ou baunilha, o que ocorre é a ilusão de escolha. Seja qual for a decisão que irá tomar, ela já estaria pré-determinada por toda sua trajetória de vida e toda a humanidade antes dela.

O aspecto essencial da questão, é saber se o indivíduo, ao praticar a ação, era livre ou não para praticá-la, se há liberdade de escolha dentre várias possibilidades oferecidas em uma situação, ou se ele só poderia ter feito precisamente o que fez. Essa teoria afirma que o comportamento humano é condicionado por três fatores: genética, meio e momento.

O oposto ao Determinismo é o Libertarianismo, que defende a visão do livre-arbítrio (detalhe, ao pesquisar sobre essa corrente, encontrei coisas sobre Libertarismo, uma confusão causada pela tradução do inglês para o português. Em inglês os dois se escrevem igual - Libertarianism). O Libertarianismo, comumente chamado de Indeterminismo, é a visão filosófica que apóia a existência do livre-arbítrio, sob a concepção segundo a qual alguns acontecimentos não têm causas, limitam-se a acontecer e nada há no estado prévio do mundo que os explique. Visão apoiada por grandes filósofos como Thomas Reid, Peter van Inwagen e Robert Kane.

E por fim, o Compatibilismo, acreditando que um não exclui o outro, são compatíveis. Visão defendida por filósofos como Hobbes, John Locke, David Hume entre outros. Essa idéia veio de uma discussão de moralidade, afinal, se não existe livre-arbítrio, como os deterministas afirmam, como poderíamos julgar alguém de alguma coisa? Não seria justo culpar alguém por algo que não poderia deixar de fazer, na verdade seria até ridículo discutir algo assim. Então pensaram que a idéia de que o Determinismo é incompatível com a responsabilidade moral, é na verdade uma ilusão, tanto quanto o é a idéia de que o livre-arbítrio é incompatível com o Determinismo.

Nessa visão as coisas determinadas como seu caráter, sua personalidade, suas escolhas, por mais previsíveis que sejam, não estão livres de responsabilidade moral. Não faz sentido desculpar um homem, depois de conhecer seu caráter, e perceber que o que fez, viria a acontecer. Do mesmo modo, não faz sentido deixar de recompensar, aquele com o caráter que o fez perceber que faria uma bondade. Um argumento muito utilizado para suportar essa idéia, é a punição. Pois, como dito, não faria sentido julgar as pessoas por crimes, no Determinismo.


Para os compatibilistas, uma ação pode ser livre ainda que previsível. Supõe que bates em alguém, e outra pessoa pergunta se poderias ter evitado tal ação. E o fato é que poderias, se caso o quisesse, talvez antes de esbofeteá-lo tivesse tido chances de fazê-lo e escolheste não fazer. A situação continuou e escolheste esbofeteá-lo, mesmo sabendo que poderias escolher não o fazer, como escolheste antes. Foi uma escolha livre, não determinada. A defesa da punição assenta no fato de o comportamento humano ser casualmente determinado. Se as ações e vontades humanas fossem incausadas, seria inútil punir, recompensar ou fazer qualquer outra coisa para corrigir o comportamento errado das pessoas, uma vez que nada as influenciaria.

Pessoalmente, Compatibilismo é o que mais me atrai. Pois não é difícil de ver que nossas escolhas se baseiam sempre em experiências passadas, mas isso não quer dizer que não tenhamos livre-arbítrio. Acredito que as escolhas que fazemos por mais previsíveis que sejam, ainda são nossas escolhas.

Por Arthur Rodrigues

5 comentários:

  1. Muito bom, Arthur!
    Acredito que as correntes foram muito bem explicadas, e a partir daí, dá pra fazer uma discussão bem interessante.

    Bom, esse assunto é muito complexo e delicado por si só, e ainda mais por se relacionar com outros tão delicados quanto ele: existência da alma e destino, por exemplo.

    O compatibilismo concerteza é a mais coerente das correntes, por ser exatamente 'o caminho do meio', o equilíbrio.

    É óbvio que o determinismo tem sua base muito bem assentada, que é são as experiências passadas. Em termos mais simples, tudo que nós poderíamos 'decidir' seria negar ou reafirmar nossas experiências passadas, tornando o cérebro numa complexa máquina binária (que é a teoria que alguns defendem).

    Acredito que, até certo ponto, isso é correto. Entretanto, há fatores como as emoções, os sonhos, a imaginação, que não deixam tornar isso de todo completo. Além do mais, acredito haver uma essência inicial em cada ser humano.

    Por exemplo, um fato pode ser interpretado de várias maneiras. Em grande parte, quando já temos nossas personalidades formadas, as experiências vão ter um papel importante na interpretação desse fato. Mas, e se levarmos em consideração o 'evento inicial', nossa primeira experiência, o que determina como interpretamo-la? Além do mais, - tenho de admitir - isso passa por crenças, esperanças pessoais.

    Então, eu 'adicionaria' ao compatibilismo o fato de as interpretações dos eventos por cada um ser um resultado de dois componentes: a essência e a experiência.

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  2. Pois é Eduardo, é sempre bom uma boa discussão sobre algo interessante e tão intrigante quanto isso, na verdade dependendo das suas crenças, entender de verdade o que são essas correntes listadas acima, alguns mudariam completamente o modo como vive. Sei porque mudou o modo como vejo a minha!

    Primeiro vou explicar porque tendo para o lado compatibilista das definições. Enquanto estudava sobre o assunto, fui primeiro em busca do determinismo, ao ver aquilo me surpreendi, não consegui acreditar que existiam outas visões, como diabos? Aquilo explica tudo. Quer dizer, tudo que fazemos com a maior certeza é baseado em experiências passadas, isso é fato.

    Mas não fiquei por ai, tinha que ver as opiniões dos outros. Fui em seguida para os libertarianistas, que achei meio fraco, a idéia deles, se não o for, é quase fé. Poucos apontam fatos que apóiam a idéia de forma inteligente. E os que dizem algo com sentido, falam que livre-arbítrio existe, mas não é sempre, só que existem eventos que não tem motivos passados para acontecer. Sem, claro, um exemplo em mãos, pois se tivessem, essa discussão seria sem sentido.

    Faltando somente os compatibilistas, descubro que esses sim apresentavam algo interessante na defesa da liberdade de escolha. Eles disseram algo que meio que me veio como uma epifania, que mesmo as escolhas sendo completamente previsíveis, não as torna não-livres, elas podem ser previstas com a maior certeza e ainda assim ser livre. O fato é que para a escolha ser livre, ela tem que ser feita por você, e desde o começo da vida, tudo que se faz é escolhas. As escolhas passadas levam você a escolhas novas, se essa teoria de Eduardo sobre a "alma" for verdade, ou se pelo menos a essência dela for, como as primeiras escolhas são baseadas em que? Bem no que quer que seja, 'alma', instinto, etc. isso torna todas as escolhas feitas na nossa vida livres. Mesmo aquelas forçadas, como a escolha de entregar a carteira ao ladrão, ainda nessa situação a escolha é sua, você pode muito bem escolher não dar a carteira e enfrentar o maldito bandido.

    Não sei, talvez seja uma visão otimista, mas parece fazer sentido. E é como Eduardo disse, isso envolve outras coisas, como destino e alma.

    Ainda estou com um pé atrás, acho o determinismo incrível, parece mesmo que não temos o poder, talvez a impressão venha do fao de não podermos mudar as escolhas feitas, nem prever as que serão feitas, é meio perturbador.

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  3. Oi.

    Voltemos ao Nit então.
    Não há livre-arbitrio nem destino, apenas interpretações.

    E essas interpretações é que podem ou não ser interpretadas, mas é um bom exercicio se propor a interpretar todas e nenhuma.
    Se me proponho a interpretar devido ao rastro impulsivo que já veio galgando nas celulas não deixa de ser uma interpretação.
    Escolher um destino, se destinar a escolher... bem, tudo acontece ao mesmo tempo em que nada acontece. Mas se este algo que me impulsiona a interpretar, impulsionar uma próxima interpretação e assim por diante, sempre dependerá de um reflexo aceito, porém se o reflexo foi repetidamente provocado por um fator externo, até que fosse aceito em toda a circunstância, houve uma progressão, essa progressão corrompe a imediatez que seria necessaria para uma fatalidade, como na previsibilidade da ação. A sensação de manter uma tensão que parece infinita perante as mentes aquém da presença misteriosa nesse mundo joga com vicissitudes que tornam certos aspectos da natureza previsiveis, dando a sensação de pré-destinação. Porém na consideração aberta reside um fator intocavel que dá a sensação de escolha, que continuando intocada pode ser comparada ao fruto proibido. :S :D

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  4. Livre-arbitrio.
    Que porra é essa?
    Seria alguma nova liga de arbitros de futebol ou alguma outra coisa que necessite de alguem para enquadar algum fato ou acontecimento em uma regra prédeterminada por alguém que ele mesmo não sabe quem é.
    A liberdade só existe dentro da mente e mesmo assim ela é restrita as possibilidades inerentes a ela.
    Questionar tal fato é como andar e circulos guiado pelas as velhas pegadas.

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  5. Foda marco!

    mas, mesmo do seu ponto de vista, liberdade ainda me parece uma coisa real. Quer dizer, mesmo se o que você diz for 'A' verdade, liberdade só existem mesmo dentro da mente e mesmo assim ela for restrita as possibilidades inerentes a maldita mente, isso faz da liberdade irreal?

    Para uma pessoa tudo que ela acredita que é real, é real para aquela pessoa. Quer dizer, se ela acredita na liberdade e tem uma grande criatividade, para aquela pessoa ela é bonita, famosa, e rica, sendo na tua verdade uma completa loser.

    Andar em círculos, guiado pelas velhas pegadas é na verdade o que fazemos de um jeito ou de outro. Se não questionas nada o que fazes? Acho que questionando é o único jeito de se livrar das pegadas, ou não, ou talvez sim, ou não... argh eu odeio elas XD

    As vezes acho metáforas esquisitas. mas gostei dessa...

    E aqueles que foram vistos dançando foram julgados loucos por aqueles que não escutavam a música.

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