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13 de junho de 2010

O Limite entre Convicção e Loucura

Estava pensando.

Acreditar é o que importa. Para usar um exemplo extremo: para quem acredita em Deus, Deus existe. Entretanto, é loucura - idiotice, talvez - deixar tudo 'nas mãos de Deus'. Mas, ora, se alguém que acredita veementemente em Deus, deixa tudo nas mãos Dele, teoricamente, Ele existe e vai cuidar de tudo.

O mesmo vale para nossas convicções - não seria religião uma convicção? - e relações entre as pessoas. Cada um de nós vive 'uma realidade' diferente, já que a realidade é aquilo que nós percebemos, e, claro, todos percebemos de maneiras diferentes. Logo, todos somos loucos em algum grau.

Então, qualquer coisa que nos altere a percepção - há uma percepção 'normal'? - é um alucinógeno, um acesso de loucura, um paralelismo ao universo 'real'. Qualquer sentimento, qualquer sensação, até mesmo o humor que você está sentindo agora é, em algum nível, loucura.

"Ou a própria Tia Flora, quem pode provar que não?" Ora, para Caio, aquela estrela era Tia Flora. E qualquer um que dissesse que não era, poderia acreditar que não fosse, mas isso, para Caio, não importava. Ele tinha fé, e acreditava. Como em "À Procura da Felicidade", todos diriam que o personagem de Will Smith era louco, por tentar coisas tão improváveis, mas não. Ele estava certo em fazer cada uma daquelas coisas.

Até que ponto nós devemos nos ater a nossas próprias crenças, e esquecer o que o resto do mundo acha? Até que ponto nós devemos ignorar a pressão social, e fazer revoluções - por menores que sejam - em nossas vidas? A pressão social é exatamente 'o chamado da realidade'. O coletivo lhe privando da individualidade, fazendo com que você aja como eles.

29 de março de 2010

Panis et circensis, Lennon, o Indivíduo e o Coletivo

Uma outra dúvida recorrente que eu tenho, além da dicotomia teoria do caos x insignificância, é o quão único cada ser humano realmente é.

Cada um de nós é único, de fato. Temos um universo dentro de nós, uma imensa rede de memórias pessoais e coletivas; carregamos uma imensa carga de memória genética, memes, genes, e por aí vai. Nossas memórias emocionais são únicas, assim como nossas experiências e percepção de mundo. A partir de cada acontecimento, um único indivíduo pode alterar o futuro inquestionavelmente, se tornando, portanto, único a conquistar algum objetivo.



Entretanto, todos nós funcionamos da mesma maneira. Salvos detalhes de metabolismo, nós temos uma mecânica fisiológica, química e biológica, em grande parte, previsível. Mesmo nosso comportamento, algo que, supostamente, é livre, é passível de ser previsto, e utilizado por outrem para cumprir determinados objetivos.

Essas duas abordagens sempre me fazem pensar: no que eu sou diferente, na essência? O que me faz único? E se eu realmente não sou apenas uma minúscula engrenagem na máquina do mundo, do capitalismo e da sociedade, que não significa nada, e não é único de maneira alguma? Analogamente a Matrix: e se eu sou apenas alguém adormecido na Matrix, apenas fornecendo gerando energia?

Partindo do princípio que cada ser humano possui as mesmas necessidades básicas, e buscam basicamente os mesmos objetivos, nós somos plenamente mensuráveis e previsíveis. Como diria Lennon:

"Keep you doped with religion and sex and TV
And you think you're so clever and classless and free

But you're still fucking peasants as far as I can see"


É saber que o ser humano, se tratado apenas como um elemento na massa, pode ser plenamente controlado, como bem sabiam os romanos. Panis et circensis. O que mudou desde então?

Deixando de lado discussões sobre luta de classes, darwinismo social e capitalismo, quero tratar mais sobre a questão mais espiritual. O ser humano não aproveita seu potencial por inteiro, ou sequer uma parte considerável, o que faz com que ele não seja mestre de si mesmo, tornando-o espiritualmente - ou, em termos de força de vontade, como preferir - fraco, manipulável.

Se torna difícil abrir os olhos, encarar a realidade. Apenas se dar conta de que ele pode ser independente intelectual e espiritualmente se torna uma tarefa quase impossível. Sair da inércia requer muita força, e a saída mais fácil raramente é a melhor.


De qualquer maneira, estou digredindo. A dualidade entre o indivíduo e o coletivo é muito presente em nosso dia-a-dia. Isso, por outro lado, me leva - e espero que a vocês também - a um questionamento existencial antiquíssimo: quem sou eu? No que eu sou diferente, na essência? Sim, repito a pergunta. Eu não sei responder. Se eu sou apenas o resultado de minhas experiências, qualquer outro indivíduo em meu lugar seria igual a mim?

Isso seria, automaticamente, admitir que nós somos seres completamente influenciados pelo meio. O que é uma teoria pseudo-científica há muito ultrapassada. Mas, então, o que me diferencia de você?

Por Eduardo Souza

28 de fevereiro de 2010

Darwin, Evolucionismo e o Destino

Como foi apresentado aqui no blog, há diversas controvérsias se o livre-arbítrio existe de fato. O livre-arbítrio, por sua vez, se relaciona com um assunto ainda mais profundo, que também foi discutido naquele post, e nos comentários, que é o destino.

Em termos hipotéticos e mais profundos, é difícil determinar se destino e livre-arbítrio existem ou não. Entretanto, em termos práticos, eu acredito no livre-arbítrio sobre qualquer outra coisa. É o que me faz não virar um conformista, justificando esse ato com "o destino já está escrito e não adianta nada fazer algo de diferente". Ao contrário do que os gregos acreditavam. Para eles, haviam três mulheres que teciam o destino: as Moiras.


Como nós bem sabemos, o ser humano é um animal que se adpata muito facilmente a diversos tipos de ambiente. Pode viver em lugares como grandes metrópoles ou vilas isoladas; climas tropicais ou muito frios; e por aí vai. Por essas e outras, segundo Darwin e o seu evolucionismo, nós povoamos o mundo inteiro. Entretanto, isso não se dá apenas do ponto de vista fisiológico e biológico, como os exemplos citados.

Do ponto de vista psicológico, o ser humano também é plenamente flexível, também. Para usar exemplos extremos, mulheres conseguem 'se adaptar' a maridos violentos; ou pessoas se adaptam para conviver com outras das quais não gostam, em ambientes comuns, como no trabalho. Então, o que isso tem a ver com o destino?

Quando alguns fatos acontecem em nossas vidas, nós procuramos viver a partir deles, e moldar nossas vidas para o melhor. Isso é se adaptar. Por exemplo, se você é demitido do seu emprego e acha um emprego melhor, você considera o fato de você ter sido demitido bom, porque, caso ele não tivesse ocorrido, você não teria procurado e achado um emprego melhor. Então, você acha bom que ele aconteceu, mesmo não tendo pensado o mesmo no momento.


De qualquer maneira, há 'coincidências' que parecem tão perfeitas, tão bem encaixadas, que parecem ter sido escritas por um senhor barbudo onisciente, onipotente e onipresente. E nós, então, chamamos de destino. E que ele estava escrito. E que aquela coisa que você achou tão ruim foi o caminho para uma outra coisa melhor.

Além do que, nada pode ficar ruim pra sempre (considerando vários pré-requisitos que já foram cumpridos se você está aqui lendo esse blog). Então, nós melhoramos nossas vidas, lutamos por sua melhoria, coisas boas nos acontecem, e dizem que "Deus escreve certo por linhas tortas".

Por Eduardo Souza.

23 de janeiro de 2010

As Correntes Filosóficas sobre o Livre-Arbítrio

Neste post irei tentar argumentar, caminhando por vários ângulos, sobre a possibilidade do livre-arbítrio existir ou não.

Bem, para começar devo explicar o que entendo por "livre-arbítrio". Acredito que a maioria das pessoas tomaria como certo o conceito relacioanado à liberdade de escolha/decisão nas ações de cada pessoa.


Existem várias maneiras de se definir livre-arbítrio, e a visão Teológica é uma delas. Segundo essa, Deus deu ao homem o livre-arbítrio, abdicando de sua onipotência em relação às escolhas dos mortais, apesar de entrar em conflito com a onisciência divina - a que Deus sabe exatamente o que acontecerá, e que escolhas cada um no mundo tomará, como o conhecido paradoxo da onipotência. Entre outras maneiras, se encontra a filosófica, acredito que seja a que mais define essa idéia. Dentre as visões filosóficas estão os Deterministas, os Libertarianistas e os Compatibilistas.

O Determinismo diz que tudo acontece exatamente do jeito que tinha que acontecer, e não poderia ter acontecido de forma distinta. As decisões e os acontecimentos são determinados por eventos anteriores. O que acontece, não poderia ser diferente, porque está conectado com o que aconteceu anteriormente. O mundo físico e biológico são regidos pelo determinismo. A física newtoniana é o melhor exemplo disso: as coisas não acontecem por acaso, existem acontecimentos prévios que preparam outro; isso acontece também na mente, pois os pensamentos são o que são devido a acontecimentos e pensamentos anteriores, assim como os atos decorrentes desses pensamentos, só acontecem devido a experiências vividas. Se você come algo e não gosta, no futuro, quando lhe oferecerem, irá rejeitar, por conta da experiência passada de degustá-la e se arrepender. Ou caso escolha experimentar mais uma vez, devido à outra experiência, que lhe mostrou que as coisas podem ter gostos diversos em diferentes ocasiões ou tempos. Enfim, no Determinismo, tudo em você é o que é devido a eventos passados, até mesmo sua personalidade, seu caráter, seus pensamentos, suas ações, etc. negando dessa forma a existência do livre-arbítrio. Suas escolhas são tomadas com base em experiências passadas.

Um argumento muito usado pelos deterministas é a "ilusão de escolhas", que dizem acontecer devido à consciência humana. Neste caso, a escolha seria na realidade uma percepção de que a execução de uma ação no presente. É um fenômeno da consciência, em que o ambiente desperta a atenção do indivíduo para uma mudança significativa no seu meio, que faz com que ocorra a "ilusão" de escolha. Portanto, você não pode optar por um sorvete de chocolate ou baunilha, o que ocorre é a ilusão de escolha. Seja qual for a decisão que irá tomar, ela já estaria pré-determinada por toda sua trajetória de vida e toda a humanidade antes dela.

O aspecto essencial da questão, é saber se o indivíduo, ao praticar a ação, era livre ou não para praticá-la, se há liberdade de escolha dentre várias possibilidades oferecidas em uma situação, ou se ele só poderia ter feito precisamente o que fez. Essa teoria afirma que o comportamento humano é condicionado por três fatores: genética, meio e momento.

O oposto ao Determinismo é o Libertarianismo, que defende a visão do livre-arbítrio (detalhe, ao pesquisar sobre essa corrente, encontrei coisas sobre Libertarismo, uma confusão causada pela tradução do inglês para o português. Em inglês os dois se escrevem igual - Libertarianism). O Libertarianismo, comumente chamado de Indeterminismo, é a visão filosófica que apóia a existência do livre-arbítrio, sob a concepção segundo a qual alguns acontecimentos não têm causas, limitam-se a acontecer e nada há no estado prévio do mundo que os explique. Visão apoiada por grandes filósofos como Thomas Reid, Peter van Inwagen e Robert Kane.

E por fim, o Compatibilismo, acreditando que um não exclui o outro, são compatíveis. Visão defendida por filósofos como Hobbes, John Locke, David Hume entre outros. Essa idéia veio de uma discussão de moralidade, afinal, se não existe livre-arbítrio, como os deterministas afirmam, como poderíamos julgar alguém de alguma coisa? Não seria justo culpar alguém por algo que não poderia deixar de fazer, na verdade seria até ridículo discutir algo assim. Então pensaram que a idéia de que o Determinismo é incompatível com a responsabilidade moral, é na verdade uma ilusão, tanto quanto o é a idéia de que o livre-arbítrio é incompatível com o Determinismo.

Nessa visão as coisas determinadas como seu caráter, sua personalidade, suas escolhas, por mais previsíveis que sejam, não estão livres de responsabilidade moral. Não faz sentido desculpar um homem, depois de conhecer seu caráter, e perceber que o que fez, viria a acontecer. Do mesmo modo, não faz sentido deixar de recompensar, aquele com o caráter que o fez perceber que faria uma bondade. Um argumento muito utilizado para suportar essa idéia, é a punição. Pois, como dito, não faria sentido julgar as pessoas por crimes, no Determinismo.


Para os compatibilistas, uma ação pode ser livre ainda que previsível. Supõe que bates em alguém, e outra pessoa pergunta se poderias ter evitado tal ação. E o fato é que poderias, se caso o quisesse, talvez antes de esbofeteá-lo tivesse tido chances de fazê-lo e escolheste não fazer. A situação continuou e escolheste esbofeteá-lo, mesmo sabendo que poderias escolher não o fazer, como escolheste antes. Foi uma escolha livre, não determinada. A defesa da punição assenta no fato de o comportamento humano ser casualmente determinado. Se as ações e vontades humanas fossem incausadas, seria inútil punir, recompensar ou fazer qualquer outra coisa para corrigir o comportamento errado das pessoas, uma vez que nada as influenciaria.

Pessoalmente, Compatibilismo é o que mais me atrai. Pois não é difícil de ver que nossas escolhas se baseiam sempre em experiências passadas, mas isso não quer dizer que não tenhamos livre-arbítrio. Acredito que as escolhas que fazemos por mais previsíveis que sejam, ainda são nossas escolhas.

Por Arthur Rodrigues