Neste post irei tentar argumentar, caminhando por vários ângulos, sobre a possibilidade do livre-arbítrio existir ou não.
Bem, para começar devo explicar o que entendo por "livre-arbítrio". Acredito que a maioria das pessoas tomaria como certo o conceito relacioanado à liberdade de escolha/decisão nas ações de cada pessoa.
Existem várias maneiras de se definir livre-arbítrio, e a visão Teológica é uma delas. Segundo essa, Deus deu ao homem o livre-arbítrio, abdicando de sua onipotência em relação às escolhas dos mortais, apesar de entrar em conflito com a onisciência divina - a que Deus sabe exatamente o que acontecerá, e que escolhas cada um no mundo tomará, como o conhecido paradoxo da onipotência. Entre outras maneiras, se encontra a filosófica, acredito que seja a que mais define essa idéia. Dentre as visões filosóficas estão os Deterministas, os Libertarianistas e os Compatibilistas.
O Determinismo diz que tudo acontece exatamente do jeito que tinha que acontecer, e não poderia ter acontecido de forma distinta. As decisões e os acontecimentos são determinados por eventos anteriores. O que acontece, não poderia ser diferente, porque está conectado com o que aconteceu anteriormente. O mundo físico e biológico são regidos pelo determinismo. A física newtoniana é o melhor exemplo disso: as coisas não acontecem por acaso, existem acontecimentos prévios que preparam outro; isso acontece também na mente, pois os pensamentos são o que são devido a acontecimentos e pensamentos anteriores, assim como os atos decorrentes desses pensamentos, só acontecem devido a experiências vividas. Se você come algo e não gosta, no futuro, quando lhe oferecerem, irá rejeitar, por conta da experiência passada de degustá-la e se arrepender. Ou caso escolha experimentar mais uma vez, devido à outra experiência, que lhe mostrou que as coisas podem ter gostos diversos em diferentes ocasiões ou tempos. Enfim, no Determinismo, tudo em você é o que é devido a eventos passados, até mesmo sua personalidade, seu caráter, seus pensamentos, suas ações, etc. negando dessa forma a existência do livre-arbítrio. Suas escolhas são tomadas com base em experiências passadas.
Um argumento muito usado pelos deterministas é a "ilusão de escolhas", que dizem acontecer devido à consciência humana. Neste caso, a escolha seria na realidade uma percepção de que a execução de uma ação no presente. É um fenômeno da consciência, em que o ambiente desperta a atenção do indivíduo para uma mudança significativa no seu meio, que faz com que ocorra a "ilusão" de escolha. Portanto, você não pode optar por um sorvete de chocolate ou baunilha, o que ocorre é a ilusão de escolha. Seja qual for a decisão que irá tomar, ela já estaria pré-determinada por toda sua trajetória de vida e toda a humanidade antes dela.

O aspecto essencial da questão, é saber se o indivíduo, ao praticar a ação, era livre ou não para praticá-la, se há liberdade de escolha dentre várias possibilidades oferecidas em uma situação, ou se ele só poderia ter feito precisamente o que fez. Essa teoria afirma que o comportamento humano é condicionado por três fatores: genética, meio e momento.
O oposto ao Determinismo é o Libertarianismo, que defende a visão do livre-arbítrio (detalhe, ao pesquisar sobre essa corrente, encontrei coisas sobre Libertarismo, uma confusão causada pela tradução do inglês para o português. Em inglês os dois se escrevem igual - Libertarianism). O Libertarianismo, comumente chamado de Indeterminismo, é a visão filosófica que apóia a existência do livre-arbítrio, sob a concepção segundo a qual alguns acontecimentos não têm causas, limitam-se a acontecer e nada há no estado prévio do mundo que os explique. Visão apoiada por grandes filósofos como Thomas Reid, Peter van Inwagen e Robert Kane.
E por fim, o Compatibilismo, acreditando que um não exclui o outro, são compatíveis. Visão defendida por filósofos como Hobbes, John Locke, David Hume entre outros. Essa idéia veio de uma discussão de moralidade, afinal, se não existe livre-arbítrio, como os deterministas afirmam, como poderíamos julgar alguém de alguma coisa? Não seria justo culpar alguém por algo que não poderia deixar de fazer, na verdade seria até ridículo discutir algo assim. Então pensaram que a idéia de que o Determinismo é incompatível com a responsabilidade moral, é na verdade uma ilusão, tanto quanto o é a idéia de que o livre-arbítrio é incompatível com o Determinismo.
Nessa visão as coisas determinadas como seu caráter, sua personalidade, suas escolhas, por mais previsíveis que sejam, não estão livres de responsabilidade moral. Não faz sentido desculpar um homem, depois de conhecer seu caráter, e perceber que o que fez, viria a acontecer. Do mesmo modo, não faz sentido deixar de recompensar, aquele com o caráter que o fez perceber que faria uma bondade. Um argumento muito utilizado para suportar essa idéia, é a punição. Pois, como dito, não faria sentido julgar as pessoas por crimes, no Determinismo.

Para os compatibilistas, uma ação pode ser livre ainda que previsível. Supõe que bates em alguém, e outra pessoa pergunta se poderias ter evitado tal ação. E o fato é que poderias, se caso o quisesse, talvez antes de esbofeteá-lo tivesse tido chances de fazê-lo e escolheste não fazer. A situação continuou e escolheste esbofeteá-lo, mesmo sabendo que poderias escolher não o fazer, como escolheste antes. Foi uma escolha livre, não determinada. A defesa da punição assenta no fato de o comportamento humano ser casualmente determinado. Se as ações e vontades humanas fossem incausadas, seria inútil punir, recompensar ou fazer qualquer outra coisa para corrigir o comportamento errado das pessoas, uma vez que nada as influenciaria.
Pessoalmente, Compatibilismo é o que mais me atrai. Pois não é difícil de ver que nossas escolhas se baseiam sempre em experiências passadas, mas isso não quer dizer que não tenhamos livre-arbítrio. Acredito que as escolhas que fazemos por mais previsíveis que sejam, ainda são nossas escolhas.
Por Arthur Rodrigues