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29 de março de 2010

Panis et circensis, Lennon, o Indivíduo e o Coletivo

Uma outra dúvida recorrente que eu tenho, além da dicotomia teoria do caos x insignificância, é o quão único cada ser humano realmente é.

Cada um de nós é único, de fato. Temos um universo dentro de nós, uma imensa rede de memórias pessoais e coletivas; carregamos uma imensa carga de memória genética, memes, genes, e por aí vai. Nossas memórias emocionais são únicas, assim como nossas experiências e percepção de mundo. A partir de cada acontecimento, um único indivíduo pode alterar o futuro inquestionavelmente, se tornando, portanto, único a conquistar algum objetivo.



Entretanto, todos nós funcionamos da mesma maneira. Salvos detalhes de metabolismo, nós temos uma mecânica fisiológica, química e biológica, em grande parte, previsível. Mesmo nosso comportamento, algo que, supostamente, é livre, é passível de ser previsto, e utilizado por outrem para cumprir determinados objetivos.

Essas duas abordagens sempre me fazem pensar: no que eu sou diferente, na essência? O que me faz único? E se eu realmente não sou apenas uma minúscula engrenagem na máquina do mundo, do capitalismo e da sociedade, que não significa nada, e não é único de maneira alguma? Analogamente a Matrix: e se eu sou apenas alguém adormecido na Matrix, apenas fornecendo gerando energia?

Partindo do princípio que cada ser humano possui as mesmas necessidades básicas, e buscam basicamente os mesmos objetivos, nós somos plenamente mensuráveis e previsíveis. Como diria Lennon:

"Keep you doped with religion and sex and TV
And you think you're so clever and classless and free

But you're still fucking peasants as far as I can see"


É saber que o ser humano, se tratado apenas como um elemento na massa, pode ser plenamente controlado, como bem sabiam os romanos. Panis et circensis. O que mudou desde então?

Deixando de lado discussões sobre luta de classes, darwinismo social e capitalismo, quero tratar mais sobre a questão mais espiritual. O ser humano não aproveita seu potencial por inteiro, ou sequer uma parte considerável, o que faz com que ele não seja mestre de si mesmo, tornando-o espiritualmente - ou, em termos de força de vontade, como preferir - fraco, manipulável.

Se torna difícil abrir os olhos, encarar a realidade. Apenas se dar conta de que ele pode ser independente intelectual e espiritualmente se torna uma tarefa quase impossível. Sair da inércia requer muita força, e a saída mais fácil raramente é a melhor.


De qualquer maneira, estou digredindo. A dualidade entre o indivíduo e o coletivo é muito presente em nosso dia-a-dia. Isso, por outro lado, me leva - e espero que a vocês também - a um questionamento existencial antiquíssimo: quem sou eu? No que eu sou diferente, na essência? Sim, repito a pergunta. Eu não sei responder. Se eu sou apenas o resultado de minhas experiências, qualquer outro indivíduo em meu lugar seria igual a mim?

Isso seria, automaticamente, admitir que nós somos seres completamente influenciados pelo meio. O que é uma teoria pseudo-científica há muito ultrapassada. Mas, então, o que me diferencia de você?

Por Eduardo Souza